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Escavações revelam relíquias escondidas sob o solo da Cúria Metropolitana, o cemitério na Catedral Matriz de Porto Alegre

Tesouro descoberto: Restos mortais de mais de 50 pessoas foram encontrados embaixo do antigo piso de concreto

o cemitério Catedral Matriz de Porto Alegre

Após 10 meses de trabalho, pesquisadores acharam o segundo cemitério de Porto Alegre, inaugurado há 240 anos e usado até 1850.


o cemitério Catedral Matriz de Porto Alegre

O cemitério na Catedral Matriz de Porto Alegre


O projeto de recuperação da arquitetura original da Cúria Metropolitana transformará um local histórico em um atrativo turístico da Capital, aberto à população. Sob os andaimes montados para o restauro, foi encontrada uma relíquia de valor inestimável e, agora, operários dividem espaço com arqueólogos.


Há 10 meses descobrindo o que há debaixo do antigo piso de concreto e pedra, os pesquisadores chegaram até os restos mortais de mais de 50 pessoas, preservados do segundo cemitério criado na cidade.


o cemitério Catedral Matriz de Porto Alegre
Hernandez na caminhada Porto Alegre Mal Assombrada

Inaugurado há 240 anos, com o nascimento da Capital, a área em declive onde hoje estão a Catedral e a Cúria Metropolitana recebeu os mortos até 1850. Questões sanitárias e a lotação do cemitério teriam obrigado a transferência dos sepultamentos para o bairro Azenha.


Sob os andaimes montados para o restauro, foi encontrada uma relíquia de valor inestimável e, agora, operários dividem espaço com arqueólogos.



Há 10 meses descobrindo o que há debaixo do antigo piso de concreto e pedra, os pesquisadores chegaram até os restos mortais de mais de 50 pessoas, preservados do segundo cemitério criado na cidade.


A maioria dos corpos permaneceu no local e foi aterrada para a construção de um seminário episcopal que, depois, transformou-se na Cúria. Agora, com o restauro que está sendo realizado na edificação concluída em 1888, houve a necessidade de escavar alguns pontos.



Os arqueólogos estão encantados com o que encontraram — comenta o padre Luís Inácio Ledur, administrador da Arquidiocese.




Registros ajudarão a descrever rituais.


Onde será instalada uma subestação de energia elétrica foram encontrados, cerca de um metro abaixo do piso, uma concentração de ossos, com pelo menos 34 crânios, que, segundo o padre Ledur, podem ter sido transferidos quando foi construída a Catedral.

Inaugurado há 240 anos, com o nascimento da Capital, a área em declive onde hoje estão a Catedral e a Cúria Metropolitana recebeu os mortos até 1850.


No detalhe, botão que pertenceu a militar do Exército de Dom Pedro II.


Nesse local, situado ao lado do muro que delimita a Cúria da Rua Espírito Santo, um verdadeiro escritório de arqueologia foi montado. Luvas, pincéis, capacetes e espátulas são os principais instrumentos de trabalho da equipe coordenada pela arqueóloga Angela Cappelletti. De 10 em 10 centímetros, eles vão desvendando o passado dos moradores de Porto Alegre.


— Esta escavação abre a possibilidade de um estudo bastante importante sobre o traçado da nossa cultura relativa à morte. Anotamos, fotografamos e recolhemos todo o material para tentar depois descobrir o sexo dessas pessoas, o grau de parentesco entre elas, as patologias da época e as etnias — explica Angela.


Os registros minuciosos permitirão descrever as práticas utilizadas nos enterros daquele período. A arqueóloga Jocyane Baretta comenta, por exemplo, que eles já identificaram algumas características do ritual. A maioria das pessoas era enterrada nua, enrolada em uma mortalha presa com alfinetes.


Mapa do Centro de Porto Alegre com destaque para o local que era ocupado pelo cemitério (na cor amarela).


— Não encontramos vestígios de caixão e notamos que a dois palmos da marca onde começava o cemitério tem restos mortais, o que não obedece aos critérios atuais de enterramento — descreve Jocyane.


Além de terem sido sepultados perto da superfície, muitos corpos foram encontrados sobrepostos, o que indica a falta de espaço em decorrência do alto número de mortes por epidemias e guerras.


Peças como um botão que pertenceu a um militar do Exército do imperador Dom Pedro II e contas de colar de origem africana ajudarão a identificar a origem dos habitantes da época. Angela estima que sejam escavados mais dois metros até o nível da calçada da rua, podendo aumentar número de ossadas encontradas.


Para a arqueóloga Ângela Cappelletti é importante compreender como funcionavam os enterros naquela época, que eram diferentes dos procedidos nos dias de hoje. Imagens de Rodrigo Veleda.


A restauração


O que prevê a restauração da Cúria iniciada em outubro de 2009:

— Resgatar a arquitetura original do prédio inaugurado em 1888;

— Instalar um Museu de Arte Sacra com imagens de santos, louças e livros antigos de até 240 anos;

— Realocar e abrir ao público a biblioteca com arquivo histórico;

— Construir um terraço para atividades culturais, uma cafeteria e um estacionamento para melhorar o acesso ao prédio.


CEMITÉRIO DA SANTA CASA


O Cemitério da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, inaugurado em 1850, o mais antigo em atividade no Sul do Brasil, conserva em seus 10,4 hectares muito da história da capital e do próprio Rio Grande do Sul. Atrás de seus muros mais de um século e meio de história estão representados nas sepulturas e mausoléus, através da arte esculpida em mármore, bronze, ferro e pedra. Atravessar os portões que guardam esse patrimônio da cidade e caminhar por suas alamedas é iniciar uma viagem ao passado.


No Brasil Colonial, as vilas tinham em seu centro uma capela, e ao lado ou nos fundos o cemitério. Na Vila de Porto Alegre, o cemitério existente localizava-se atrás da antiga Igreja Matriz e Capela do Divino Espírito Santo, que deram lugar à Cúria Metropolitana, na atual Rua Fernando Machado.


Durante a ocupação de Porto Alegre pelos Farroupilhas, entre 1835 e 1836, a média anual de enterros aumentou substantivamente, motivada também por um surto de escarlatina. Logo, a área destinada aos sepultamentos tornou-se inadequada. O terreno acidentado, de acentuado declive, não permitia mais acolher os sepultamentos, por problemas ocasionados pela chuva e consequente erosão do solo.


Em 1834 já havia uma comissão sanitária, formada por médicos, e nomeada pela Câmara Municipal para debater sobre o problema da necrópole. Foi em 1843, após a Câmara Municipal ter autorizado a mudança do Cemitério para uma localidade afastada, extramuros, que o Presidente da Província, Luís Alves de Lima e Silva, tomou a iniciativa de fazer adquirir, em 6 de agosto de 1844, um amplo terreno, situado longe do centro, no alto da Colina da Azenha, ordenando à Irmandade da Santa Casa a sua administração.


Para agosto de 1850 foi projetada sua inauguração. Entretanto, com a epidemia de febre amarela que se difundia pela Vila, urgia realizar os sepultamentos no novo cemitério. Assim, em 6 de abril daquele ano realizou-se a primeira inumação no Alto da Azenha, seno ainda aprovado pela Câmara Municipal o impedimento de realizar enterros em outra necrópole. José Domingues, um marítimo português que chegou em Porto Alegre, é o primeiro livre sepultado. E a inocente Eva foi a primeira escrava ali acolhida, em 12 de abril de 1850.


Até 1884, este foi o procedimento: os livres eram sepultados no interior do Cemitério e, os escravos, fora dos seus muros. Com a abolição da escravatura em Porto Alegre no ano de 1884, quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea, pela Princesa Isabel, todos os falecidos da Capital passaram a ser sepultados no seu interior. Os surtos de cólera, tuberculose, febre tifoide, moléstias intestinais e afecções cardíacas determinaram o aumento dos índices de ocupação do Cemitério que, em 1893, já contabilizava 50 mil mortos, forçando a ampliação da área.


O Cemitério da Santa Casa acolheu a expansão urbana da capital durante o século XIX. Porém, no decorrer do século XX a população de Porto Alegre cresceu vertiginosamente, propiciando o surgimento de outras necrópoles na cidade. Na atualidade, o Cemitério Santa Casa é a expressão evidente das transformações sociais, econômicas, políticas e culturais promovidas ao longo do tempo na história da capital e do estado do Rio Grande do Sul.

O Cemitério da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, inaugurado em 1850, o mais antigo em atividade no Sul do Brasil
O Cemitério da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, inaugurado em 1850, o mais antigo em atividade no Sul do Brasil




Assista o vídeo com a reportagem em:


Obra de reforma na Cúria Metropolitana de Porto Alegre revela um cemitério de 240 anos no site ( http://www.campograndenoticias.com.br/brasil-br/11762-obra-de-reforma-na-curia-metropolitana-de-porto-alegre-revela-um-cemiterio-de-240-anos.html )

Por Letícia Costa (leticia.costa@zerohora.com.br) publicado na seção Geral > Notícias do jornal on-line: Zero Hora (http://zerohora.clicrbs.com.br/) em 14/07/2012 às 05h04.

14/07/2012. Crédito: Ricardo Duarte/Agencia RBS. Imagem disponível no site: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/fotos/escavacoes-revelam-reliquias-escondidas-sob-o-solo-da-curia-metropolitana-32755.html em 19/07/2012. Imagem disponível no site: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/fotos/escavacoes-revelam-reliquias-escondidas-sob-o-solo-da-curia-metropolitana-32755.html em 19/07/2012. Imagens de Rodrigo Veleda. Imagem extraída do vídeo disponível no site: http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2012/07/ossadas-humanas-sao-achadas-em-escavacao-para-restauracao-no-rs.html em 19/07/2012. Imagem e texto extraídos do vídeo disponível no site: http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2012/07/ossadas-humanas-sao-achadas-em-escavacao-para-restauracao-no-rs.html em 19/07/2012.


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