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Porto Alegre, 1919 — “Scena de Sangue”

O CRIME NO GRANDE HOTEL (1919)


Segundo o texto original da publicação:


> “Causou a mais funda e dolorosa impressão o pugilato havido no Grande Hotel, entre dois viajantes, e de que foi vítima um deles. Ambos eram conhecidos e estimados no comércio desta capital, onde contavam amigos. Até agora, ainda os factos que motivaram a lamentável ocorrência não estão aclarados e as versões são diversas e contraditórias, emprestando a razão ora a um, ora a outro.”


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Em resumo


O episódio não foi um assassinato premeditado, mas uma briga violenta (“pugilato”) entre dois hóspedes viajantes.


O conflito ocorreu no interior do Grande Hotel, tradicional hospedaria da elite e de comerciantes, situada na Rua dos Andradas (antiga Rua da Praia).


Um dos envolvidos morreu em consequência dos ferimentos, tornando o caso um crime de morte violenta, motivo pelo qual a revista o chamou de “Scena de Sangue”. As causas do conflito eram incertas; as versões eram contraditórias, e não havia clareza sobre quem iniciara a briga.


A nota sugere que o fato repercutiu fortemente entre os moradores e frequentadores do centro, pois os dois homens eram “estimados no comércio” — ou seja, provavelmente viajantes de negócios hospedados no hotel. O público se aglomerou diante do local, e o fotógrafo da revista registrou a cena que vemos na imagem: curiosos em frente à entrada do Grande Hotel, enquanto o bonde passa à esquerda e a placa “Pastelaria Selecta” aparece na fachada lateral.


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Contexto histórico


Na Porto Alegre de 1919, o Grande Hotel era um dos edifícios mais sofisticados do centro, símbolo da modernização urbana. Brigas, suicídios e crimes em hotéis eram temas frequentes na imprensa ilustrada — e a Máscara explorava justamente esse sensacionalismo da “vida moderna” e de seus dramas.


O uso da expressão “Scena de Sangue” e o tom fúnebre da nota são típicos da imprensa policial ilustrada da época, que buscava capturar a curiosidade pública com imagens de multidões e descrições melancólicas. O caso, apesar de breve, representa um dos primeiros registros fotográficos de um crime urbano em Porto Alegre com cobertura jornalística ilustrada.


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Conclusão


O “crime do Grande Hotel”, portanto, refere-se a uma briga fatal entre dois viajantes hospedados naquele estabelecimento em 1919, noticiada pela revista Máscara (Ano II, nº 42, p. 18) sob o título “Scena de Sangue”. O episódio chocou a cidade pela violência, pela localização — o coração da Rua da Praia — e por envolver figuras conhecidas do comércio local.


Essa imagem é, hoje, um importante registro visual da vida urbana e do jornalismo policial porto-alegrense do início do século XX.


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Como descobri o “Crime do Grande Hotel” (1919)


Tudo começou com uma fotografia antiga. Um grupo de curiosos parados diante do Grande Hotel, na Rua da Praia, e a legenda intrigante:


“Os primeiros curiosos à porta do Grande Hotel, logo após à perpetração do crime.”


A imagem me perseguiu por dias. Nenhuma descrição, nenhum nome, nenhum jornal que explicasse o que havia acontecido ali. Apenas o silêncio e o mistério guardado em papel amarelado.


Comecei a investigar. Percorri arquivos, catálogos e hemerotecas, até encontrar a origem exata da fotografia: a Revista Máscara, uma publicação porto-alegrense de 1919, uma das primeiras revistas ilustradas do estado, conhecida por misturar arte, ironia e sensacionalismo.


Na edição nº 42, encontrei a matéria com o título “Scena de Sangue”.

Ali estava o relato: uma briga entre dois viajantes hospedados no Grande Hotel, um conflito que terminou em morte e deixou o centro da cidade em alvoroço.


Causou a mais funda e dolorosa impressão o pugilato havido no Grande Hotel”, dizia o texto.

As versões são diversas e contraditórias, emprestando razão ora a um, ora a outro.


Era o retrato perfeito de uma Porto Alegre em transição, elegante, moderna e brutal ao mesmo tempo. Um episódio esquecido que, mais de um século depois, volta à luz não apenas como uma tragédia policial, mas como um espelho da alma sombria e fascinante da cidade.


Hoje, essa imagem e esse texto fazem parte da minha pesquisa para o projeto Porto Alegre Mal Assombrada, e marcam mais uma descoberta sobre o lado oculto da nossa história.


André Hernandez

📍Porto Alegre, 20 de outubro de 2025

🌤 Primavera, sob o signo de Libra ♎



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